Carambas...!

A obsessão que se cria em relação a determinadas peças de vestuário sempre foi um dos meus maiores objectos de reflexão.

Desde criança que me dedico a amar alguns itens do meu guarda-roupa (que desde sempre foi composto por coisas oferecidas, coisas herdadas, coisas compradas ou coisas alteradas) de forma extremamente incondicional.
Adoro-as de tal maneira que, das duas uma: ou as visto até já não terem mais estaleca para serem envergadas, ou então guardo-as religiosamente apenas como objectos para contemplar.

Normalmente as peças-objecto são aquelas que foram adquiridas já numa fase complicada das suas existências (por exemplo a minha colecção de casacos dos anos 40 do século passado), ou então aquelas que o uso indevido pode destruir de forma irreparável (sapatos de saltos forrados, daqueles dos dead stocks já referidos há alguns posts, que a calçada portuguesa insiste em comer) ou ainda aquelas que são insubstituíveis quer pelo preço, quer pela raridade.

Quando era criança, a minha Tia, que vive em Macau há trinta anos, enviava-me twin sets maravilhosos que ninguém conseguia imitar.
Muito menos em Beja.
Tive peças de roupa lindas de morrer, absolutamente insubstituíveis, que usei e usei e usei e usei...
Até à exaustão.
De entre essas peças destaco com algum orgulho um twin set de algodão, em rosa clarinho, verde água e cinzento, aos hipopótamos; uma camisola de lã de máquina rosa bebé, com punhos e colarinhos verde-água e um esquiador bordado a fio prateado que me foi trazida de Aspen; uns jeans snow washed; umas sabrinas douradas; um casaco de inverno às rosas; uma T-shirt dos Simpsons e um conjunto de algodão todo branco, de calções e T-shirt, da Bennetton. Destaco ainda uns ténis de lantejoulas e os meus primeiros converse all star vermelhos, aos cinco anos.
Tudo isto foi usado e repetido e usado e repetido vezes sem conta.
Porque comecei a vestir-me sozinha e a escolher a minha roupa muito cedo (aos cinco anos).

No fim-de-semana passado decidi dar mais uma volta, não muito veemente, aos baús que existem lá na Quinta.
Como essas voltas que dou nunca demoram mais do que vinte minutos, dada a inclinação do sótão e as cabeçadas envolvidas no processo, encontro sempre coisas novas.
Abri um baú muito grande e muito rústico, forrado a naftalina e tecido estampado com cornucópias e encontrei duas coisas magníficas: um lenço que terá pertencido à minha Tia Josefa, uma aficionada do mundo taurino, e a T-Shirt desse conjunto Bennetton.
Foi uma surpresa.

Confrontada com fotografias de época e tendo em linha de conta que os meus pais nunca foram grandes obcecados com o registo de imagens, é significativo o número de fotografias e que apareço com esse conjunto, e não pude deixar de ter vontade de partilhar isto.

Aí estou eu, sempre com a mesma roupa, como naquele episódio do Seinfeld em que ele sai com uma rapariga que tem sempre o mesmo vestido.