Manifestações.

Ontem fui apanhada de surpresa no meio de uma manifestação da CGTP.
Estava na Rua do Ouro, por volta das seis e meia da tarde.

Nada disto teria sido estranho ou despropositado, não fosse a fraca concentração de manifestantes e a observação que pude efectuar enquanto esperava.
Eles estavam a manifestar-se no meio da rua, eu estava no passeio.
Já tinha as minhas novas amigas nos pés, um vestido azul e casaco de ganga. Brincos enormes, saco Longchamp. iPod e headphones a tocar Misfits.

Pelos passeios circulavam os que distribuíam prospectos e tentavam sensibilizar os não-participantes.
Assisti a toda a manifestação, pelo que podem calcular a quantidade de angariadores que passaram por mim.
Nenhum deles me deu um prospecto.
Todos passaram, olharam e não deram um prospecto.
Senti-me descriminada pela aparência.
O que é que os levaria a pensar que eu não me interesso pela sua luta?!
O vestido e os saltos?
O dourado dos brincos?!
Porque... à passagem da horda, consegui ver que muitos dos que a compunham aproveitaram para fazer compras nas várias lojas pertencentes ao grupo galego que dominou o mercado tradicional de outrora.
Consegui ver muito sapato de marca.
Consegui ver muito telemóvel de terceira geração.
Consegui ver muita roupa cara.
Consegui ver muitos óculos de sol francamente inacessíveis.
Todos os CGTPs ostentavam imensa porcaria capitalista e descriminaram-me por causa do meu aspecto.

Não deixou de ser pós-moderno.