VAMOS A LA PLAYA

No fundo sempre fui Gótica.
Porque o meu nível de filtro solar é sempre o máximo dos máximos.
E isso sempre fez com que evitasse ir à praia com amigos e gente quejanda, porque seria sempre a lula convidada.
Ou talvez o choquinho.
A adolescência também não ajudava nada à festa e a verdade é que neguei imenso qualquer mostranço de carnes.
E só me apercebi disso quando quis um dia tomar um banho na piscina lá de casa e não tinha fato de banho.
Nem um.
O pior de tudo foi que não conseguia comprar nenhum porque estava muito longe de estar habituada a ver-me de fato de banho, etc, etc, etc...
Passei uma grande parte desse Verão em que tudo mudou, a atirar-me para dentro de água vestida e pronta.
A minha Mãe achava imensa graça.
Menos quando havia amigos lá em casa, porque quando saía da água já não levava nada vestido e ia só a correr para o banho, descalça, entre cães e um cavalo doido...
E também... Tinha acabado de fazer o DEMO e estava mais do que preparada para me atirar para uma piscina com roupa.
A minha casa não é o São Luiz, o sol do Alentejo não aquece o mesmo que mil projectores (são calores diferentes...), mas o efeito era o mesmo.
Comprei depois, nas lojas das velhas de Montemor, um bikini Triumph com alguns cento e oitenta anos, muito bonito, azul, de cuecão bem grande e parte de cima cónica.
Sobrava-me imenso bikini e percebi que embora preferisse os modelos cuecão, todos me iriam ficar muito grandes.
No ano passado comprei um bikini preto e um de riscas.
Muito vazios.
Queria qualquer coisa assim mais favorecedora.
E acho absurdo dar duzentos euros por quatro triângulos.

Lembro-me tão bem dos fatos de banho geniais da minha Mãe e da minha Tia...!
Tão Copacabana, tão tropicalientes, tão bonitos e retorcidos e detalhados e elegantes...!
Porque eram fatos de banho e bikinis totémicos: peças tão pequenas e tão comunicantes, com cores e padrões ou modelos tão chamativos...
Faziam o serviço todo enquanto lhes realçavam os corpos.
Nunca havia ninguém com algo semelhante na praia.
A minha Mãe dava-se até ao trabalho de comprar lycras a metro e costurar os seus próprios bikinis...!

Quando era pequena, o permitido era uma parte de baixo aos folhos e estava o assunto resolvido.
No ano em que as pré maminhas adolescentes começaram a brotar em todos os peitos da turma, eu continuava lisa e rasa como sempre tinha sido (e sou).
Mas como todas as minhas colegas da natação usavam qualquer coisa a tapar os inchaços, eu também quis.
Merda a mais para o pudor...!
O fato de banho de riscas, de inspiração náutica que coagi a minha Mãe a inventar sob pena de não suportar a pressão de ir para a natação com a caixa torácica à mostra, revelou-se um atroz inimigo.
Como já não deixava ninguém tocar no meu corpo de nove ou dez anos, na intimidade do balneário, enquanto vestia o meu fato de banho e começava os preparativos para mais umas horas dentro de água, não pus protector nas partes tapadas pela lycra púdica.
Achei que não valia a pena.
E quando, ao quarto ou quinto dia de natação ao sol, o meu irmão adolescente e odioso fez questão de reparar que eu estava às riscas como o fato de banho: branca nas riscas azuis escuras e escaldada nas riscas brancas, morri de vergonha.
Não podia sequer usar tops com calças e calções de cintura subida.
Decorria o ano de 1994.
Foi o pânico.
E foi a partir dessa altura que se acabaram as descobertas da carne.
As férias começaram a ser mais educativas do que os concursos do DN das Construções na Areia, e comecei a frequentar colónias altamente providas de muitas actividades intelectuais.
Suponho que também para apaziguar os ímpetos hormonais provocados pela acção do sol na moleirinha adolescente.

Muitos Verões de cromice depois, ocorreu o tal episódio de não ter materiais de banho.

E é claro que no Verão em que quis tomar banhos comunitários, só queria fazê-lo com estilo.
(Dadas as reminiscências...!)
Não tenho conseguido.
Ou será que tenho evitado?!
É que... Não costumo preparar os outfits para a época balnear...

Até que me apareceram estes dois.
Amor à primeiríssima vista!
Venham os cocktails do bar do hotel, os óculos de sol e o meu écran total!
E não, não vou remover os paddings, porque... me fazem falta!





Dois lindos bikinis INSIGHT, fotografados pelo meu querido iPhone4, com o filtro 1974 da Aplicação CameraBag.

(Sei que estas fotos não ajudam muito, mas o meu gosto algo maneirista adora este sol que entra pela minha casa e ilumina assim uns retalhos do chão...)