CASAMENTO

O Casamento é um tema que me tem atraído imenso desde há algum tempo.
Subliminarmente influenciada, talvez, pela quantidade pouco normal de Casamentos Reais, pela entrada na época casamenteira por excelência, pelas páginas da HOLA...
Não sei.
O certo é que sinto Casamentos a pulular por aqui e por ali.
E pronto, reflecti imenso.

(Devo pedir desculpas pela minha ausência, mas tenho andado a ser cool na vida real.)

Em primeiro lugar, devo definir o meu posicionamento relativamente a esta questão: não só acredito no AMOR, como também acredito na celebração do mesmo.
Não sendo, de todo, religiosa (embora tenha consumados todos os sacramentos perante a Igreja Católica Apostólica Romana) acredito na celebração do Casamento para diversos fins de ordem mais moderna, destacando 1. um motivo para uma nova encenação com figurinos, música, luzes, comida e um sentimento avassalador posterior ao fim das celebrações báquicas; 2. um motivo pertinente para uma pândega conjunta com todos os amigos que jamais juntaria; 3. para uma fake party com imensas fotografias para a posteridade; 4. para todo o tipo de benefícios de ordem social e fiscal.
Tenho o meu Casamento estruturado e pensado como desejo que seja.
E quando fizer esse espectáculo, vai ser GENIAL e não me vou arrepender.

Passemos adiante, aos Casamentos que por aí tenho tido a oportunidade de sentir.
E digo sentir porque não faço questão de ir a nenhum, a não ser que a comida seja óptima e os meus sapatos mais difíceis precisem de uma saída.

Começo por essa bela celebração anterior a que se chama Despedida de Solteiro/a.
Há lá coisa mais deprimente?!
Merdosa, até.
"Despedida de Solteiro/a" significa o quê?
Porque... Se alguém se despede e o celebra evocando claríssimas mágoas em todas as acções levadas a cabo, para que é que se casa, logo em primeiro lugar?!
Qual é o objectivo de se fazer algo em que não se acredita?!
Deprimem-me os dois lados da barricada.

O masculino por tudo aquilo que já sabemos e muito mais, especialmente pelo nível de ridículo envolvido no que toca à afirmação da masculinidade/virilidade de que nunca se dispôs.
Há coisas cujos tempos não aparecem só porque sim.
E essas coisas, forçadas, são apenas e só muito, muito, muito deprimentes.
Para quem assiste - eu - é óptimo.
Mas para quem vive e quem atura, deve ser tremendo.
Para não dizer mais nada.

No caso feminino, gosto mais.
Porque a fêmea, quando tem de se afirmar, transborda classe.
Começando pelo caralhinho na testa, pelas t-shirts com dizeres marotos compradas em papelarias de centro comercial de bairro, pela ida à sex shop (à qual já deviam ter ido há muito mais tempo, por motivos óbvios), passando pelas roupas provocantes (geralmente de diabinhas também marotas) e culminando nas unhas de gel feitas de propósito para a ocasião, qualquer bebedeira assenta que nem uma luva e prepara uma excelente noite num club de strip masculino com gajos bons interiamente gays.
Após o clube de strip masculino e constatada a realidade gay ali envolvida, o grupo de fêmeas experimenta, normalmente, um nível de frustração exponencial, pelo que termina abruptamente com qualquer tipo de diversão e passa para o exercício de comportamentos recorrentes no futuro.
Ressaibianço.
A noite da "Despedida de Solteira" da fêmea corre, geralmente, pior.
Alimenta-se de frustração e de desejos reprimidos, impossíveis de saciar por já ser demasiado tarde para a consciência feminina, aquela que andamos há séculos a moldar de acordo com cânones misóginos e espartilhantes.
É comum que esta celebração termine mal.

E como daí até ao Casamento é um pulo, as hipóteses de que tudo seja tenebroso, aumentam bastante depois disto.

O Casamento propriamente dito é maravilhoso.
E pelo que posso ouvir, desejava poder assistir a algum.
Esmeradíssimos atuendos por parte dos convidados, muitíssimo gosto no lado dos Noivos e muita harmonia.
Palavras nunca antes ditas e um exacerbado afirmar de felicidade que nem sempre se experimenta.
É duro.
Os Noivos aproveitam esta ocasião para escolher vestidos e fatos muito interessantes a todos os níveis.
Se, no pico da paixão, trememos quando estamos prestes a avistar o nosso amado, pelo grau de surpresa que isso pode implicar, imaginem o que pode ser estar num altar ou agarrada ao braço de um Pai e ver certos vestidos e certos fatos.
E não vale dizer que a ocasião atenua seja o que for.
Antes das estreias testamos tudo e fazemos um ensaio geral sem surpresas.
Nos Casamentos deviam fazer o mesmo.
Recentemente vi uma noiva que casara de Melissas.
E um noivo cujo fato era de um shintz tão brilhante que fazia de reflector para o fotógrafo.
Os penteados também merecem destaque.
Especialmente os das Noivas.
Como é que, ao fim do dia, aquando do abandono do Copo de Agua rumo à Lua de Mel, se desmancham aquelas coisas?
Não é ridículo tirar um postiço à frente do homem que temos de impressionar?
Faz parte do encanto feminino, guardar segredos relacionados com a manutenção da beleza.
Segredos que deixam os homens encantados.
Segredos que têm a ver com a magia que envolve a Mulher (que ainda é o que nos resta...).
Porque...
Um postiço...
Um postiço faz por nós o que o nosso cabelo não faz.
E encanta.
E os postiços tiram-se nos camarins, enquanto se fumam cigarros e se dizem asneiras...
E quando saímos do camarim, sem o postiço, e o nosso AMOR nos espera cá fora ainda encantado pela nossa brilhante actuação e nos pergunta o que é que fizémos ao cabelo, cabe-nos a nós manter o mistério e largar um simples "nada..."

E os nomes dos vários passos de um Casamento?

Hoje li uma coisa sobre casamentos e sobre as concepções masculinas e femininas acerca do mesmo, sobre as concessões, sobre as rotinas, as perdas, os ganhos e as magias.
E são necessárias autênticas macumbas para todo o tipo de casos.

De repente, estou perdida...
Porque tudo me parece assustador nesta coisa do Casamento dito tradicional.
O esforço do colectivo para que os registos posteriores façam jus à ficção que não teve lugar, assusta-me de sobremaneira.
Qualquer esforço me parece tenebroso.
E se esse esforço envolver o maior espectáculo da minha vida (muito maior do que os Ballets Russos que vêm ao Campo Pequeno ou os espectáculos com cavalos amestrados, por exemplo), não quero que haja espectáculo.
Cancelo a estreia como a Charlene quis cancelar.
Não há que ter medo de cancelar estreias nem Casamentos.

Não suporto ver Casamentos.
Só fui a um em que sabia que a coisa ia resultar.

De resto, os que vejo, têm alianças bonitas, mas à mesa do restaurante têm caras de caso e falta de assunto.
Mas de certeza que a festa foi linda...

(E o único motivo pelo qual me Despediria de Ser Solteira, seria a mudança do estado civil no Bilhete de Identidade.
Mas como os novos já não têm disso, caguei.)