S/T

Amigas, Amigos,

O blogue não acabou - como me perguntaram ao longo destes dias sem posts.

Estive a viver, que é uma coisa que algumas pessoas fazem, em detrimento das outras pessoas que falsificam a experiência da própria vida relatando as suas proto-actividades online, na esperança de que esses relatos lhes venham a conferir a relevância de que carecem.
(O Facebook salva vidas.)

Passada a justificação inicial, vamos ao que pode realmente interessar!
Tenho pensado na crise e nas repercussões da mesma.
Muito.
No entanto, a expressão de qualquer tipo de opinião sobre a crise causa-me alguma urticária, já que isso só provoca mais má onda, mais depressão, mais maus fígados...
E confesso que, da forma como a população anda a comportar-se, prefiro fingir que está tudo bem e evitar assim qualquer tipo de embate desnecessário.
Conhecida que sou por ser a maior promotora de cavalos de batalha de todo o sempre, decidi passar pela crise como cão por vinha vindimada, ser um pouco shanti shanti e deixar que tudo me passe ao lado.
Deixar.
Alguma vez terei eu pensado em deixar alguma coisa?!
(-Não!)
Deixar sugere abandono, e não gosto disso.
Ou não gostava.
Não sei... Ainda estou indecisa!...

Deixar passar ao lado, só a crise, porque tudo o que me é endereçado pessoalmente, i.e. tudo aquilo que a mim e às minhas coisas diz respeito, não deixo.
Vou lá e sujo as mãos, arregaço as mangas e visto a camisola.
E este post é sobre isso.
Sobre o correio que recebo das Caras Leitoras (os Caros Leitores, se os há, não se manifestam, respeitando o cânone que os rege como machos que pouco ou nada dizem. Continuo, assim, a gostar dos clássicos.).

Ao contrário do que me escrevem, Cridas, não sou rica.
Nem lá perto.
Acontece que trabalho imenso e que tenho uma propensão tramadíssima para o judaísmo e que gosto de trabalhar e de ser remunerada por isso.
E gosto de me mimar.
Por razões de natureza biográfica, sou eu que me mimo há muito tempo, e sei fazê-lo.
Sei viver quando tenho dinheiro, mas também sei viver quando dele disponho em menor quantidade.
Chama-se a isso adaptação (às adversidades).

A flexibilidade do Ioga, por exemplo, adaptada à vida.
É como se um dia descobríssemos que os ensinamentos do Ioga já fluem dentro de nós, que já os tornámos orgânicos, por assim dizer, e que estamos numa situação de stress.
O pensamento, num momento de distracção, voa para uma zona em que nos lembramos de como somos pessoas calmas e tranquilas quando praticamos as Asanas na sala de aula duas vezes por semana, ao fim do dia.
E nesse momento precisamos do Ioga como de pão para a boca.
Precisamos dos Seus ensinamentos, e vamos buscá-los.
Mas... não temos o Ioga matress violeta claro nem o equipamento da Stella McCartney para a Adidas!!!

OMFG!!!
E AGORA?!?!?!?! - É que... É MESMO urgente sentar-me em Ardha Padmasana para acalmar. - E AGORA, CARALHO?! ESTOU FODIDA!...


A grande diferença está aqui.
Reside aqui, aquando desta tomada de decisão: vamos ser piores por falta dos satélites?! Não conseguimos por total ausência dos parceiros estéticos?
É na manutenção (ou não) da Ardha Padmasana no chão do escritório com a roupa da reunião anterior que reside a verdadeira diferença.

Amigas,
Adoro tratar-me bem.
Mas longe vai o tempo em que tinha mesada.
Longe significa vários anos.
Anos em que refinei o gosto, mas perdi o guito que me permitia tais refinanços.
E há escolhas a fazer e truques a aprender e formas novas de contornar as adversidades e tantas outras coisas...

Uma das minhas prioridades é assegurar que aufiro os rendimentos necessários para pagar a casa e as contas do dermatologista, pelo menos.
Ter uma skin condition é uma renda para o resto da vida, e embora se pense que isso são caprichos, devo dizer-vos que de capricho, só conheço a Sociedade Filarmónica Bejense, e que isto é tão importante como a insulina para um diabético do tipo 1.
E desenganem-se os que acham que as coisas na farmácia são mais baratas...
A maioria dos medicamentos custa uma fortuna e não é dedutível no IRS.
E não falo apenas de tratamentos ao nível facial.
São também corporais.
E a superfície do corpo é muito maior.
- DAMN!
Por isso, sim, sei o que é que é bom e o que é que resulta e o que não, pelo que, quando vos dei conselhos sobre isto, não era para acharem que eu sou uma Princesa.
É porque sei do que vos falo, por necessidade.
Yá?

(E por força da metaficção a que submeto este blogue, opto por falar do melhor e nunca do pior.)

Uma das coisas que aprendi devido à skin condition, foi que o barato sai caro, e que é preferível comprar melhor.
Especialmente quando a aplicação é tópica.
Quanto a vernizes e maquilhagens e coisas dessas, sou uma pessoa vagamente básica, que usa sempre as mesmas três coisas.
Se gosto de vernizes?
Adoro!
Se gosto de unhas bem arranjadas e bem pintadas?
Adoro!
Se vou todas as semanas à manicure arranjar as unhas?
Nem pensar!
Mas... Em que momento vos terá ocorrido semelhante coisa!?
É tão possível arranjar as mãos em casa!...
E tão melhor!...
(Pensem que podem comer o que vos apetecer, ouvir ou ver o que vos apetecer...)

Comecem por ter sempre em casa: limões e açúcar branco, mel e óleo de amêndoas doces.
Lavem as mãos com água quente.
Num recipiente, deitem uma colher de sopa de mel e uma colher de sobremesa de açúcar e misturem bem até ficar uma papa granulosa.
Peguem nessa papa com as mãos, e esfreguem as mãos e os dedos, cuidadosamente com essa papa.
Percorram toda a superfície da mão.
Passem com o sumo de limão por cima dessa papa e calcem uns sacos de plástico presos por elásticos aos pulsos.
Deixem-se estar uns cinco minutos.
Descalcem os sacos e passem as mãos por água quente para tirar essas papas todas da pele.
Hidratem com o óleo de amêndoas doces, calcem umas luvas de algodão e vão dormir!
(Esta operação de altíssima manicure custa menos de um euro, é inteiramente biológica - tirando os sacos de plástico e os elásticos - e está à vossa disposição em vossas casas.)

Depois, caso vos tenha sobrado papa de açúcar com mel, vão ao frigorífico buscar um iogurte natural.
Misturem o resto do sumo do limão no iogurte natural até ficar uma papa.
Limpem a cara com água tépida e apliquem a papa de iogurte, de forma homogénea.
Deixem actuar até secar.
Quando estiver seco, retirem com água quente.
Utilizem a papa de mel com açúcar para exfoliar, com cuidado, a cara.
Retirem tudo com água morna, passem a cara, se vos apetecer, mais uma vez, pela papa de iogurte e limão, e retirem tudo.
Certifiquem-se que a última água pela que passam a cara é fria.
Ponham creme hidratante.
Vão dormir.

A exfoliação (aprendi isto aquando do meu período dermatológico mais complexo) é essencial pelo menos uma vez por semana, à noite, para retirar as células mortas e as impurezas e as merdas que apanhamos todos os dias, especialmente nas cidades.
Todos os produtos exfoliantes contam com perfumes e químicos na sua composição, pelo que o meu dermatologista me ensinou esta coisa do iogurte e do mel e do açúcar, porque é tudo naturalmente antioxidante e regenerador e compensatório.

Outra coisa linda que aprendi com o meu dermatologista é que, para hidratar os lábios, o melhor é vaselina.
Um tubo de vaselina é super feio, bem sei, mas é o mais eficaz, duradouro, e custa menos que um euro.
E também serve para aplicar à volta dos olhos antes de ir dormir, para hidratar aquela que é uma das zonas mais sensíveis do corpo, e que agredimos imenso com maquilhagens e afins.
(Caso detestem ser julgadas na farmácia aquando da aquisição de vaselina, acho que já é possível comprar um tubo da mesma em supermercados.)

O melhor creme anti rugas de que há memória é chegar a casa e esquecer que estamos cansadas ou bêbadas, ir à casa de banho lavar a cara, ou usar desmaquilhante ou o raio que o parta.
Pessoalmente, lavo a cara com água morna e com as soluções não sabonosas receitadas pelo sr. Dr., mas isso sou eu.
O que importa reter é: não dormir com maquilhagem.
Não dormir maquilhada protela a compra de cremes anti rugas mais uns dois aninhos do que o normal.
Outro grande ajudante desse protelar é o uso de protector solar.
Bem sei que todas adorais andar morenas e bronzeadas, mas isso envelhece que é obra.
Uso protector solar todo o ano, que aplico depois do creme hidratante, devido ao facto de ser altamente reactiva ao sol.
O protector é um creme robusto, mas já os há que são apenas filtros, mais fluidos e de fácil aplicação, com preços altamente acessíveis, e que previnem rugas, manchas e outras agressões, porque se fundem com a pele e actuam como escudo.
O Sol é O Mestre Enrugador por excelência, pelo que Lhe devemos muito respeito e devoção.
O Sol enruga mais do que dez directas, por exemplo.
Evitar o uso de muita maquilhagem oclusiva é, também, um grande truque de beleza a longo prazo.

Gostava também de vos falar do exercício físico e da manutenção da forma.
Em Portugal, é comum, entre as fêmeas, o adjectivo puta, quando se é magra.

Há várias coisas que promovem a magreza ou a forma ou lá o que vem anunciado nas embalagens de cereais femininos.
Uma delas é simples, e há muita gente que não gosta, não tem tempo, ou não tem dinheiro.
Chama-se exercício físico, e é uma disciplina em tudo relegada para quinquagésimo nono plano ao longo de toda a vida da jovem fêmea, menos quando esta tem de ir à praia, vestir um vestido, ou engatar um gajo.

Comecemos pela locomoção: andar a pé e de transportes, subir escadas e não fumar dez maços de cigarros por dia, é um princípio básico.
Quando o transporte se atrasa, podemos decorar as paragens e ir caminhando até à próxima e até à próxima e até à próxima, até que o dito cujo chegue.
Há escadas em todo o lado todos os dias, pelo que ficar à espera do elevador só promove varizes, na medida em que a espera não é, de todo, um acto activo, mas sim passivo, em que a circulação sanguínea não está a ser favorecida.
Os cigarros em defeito ajudam imenso a realizar tudo isto com menor esforço.

Para a forma, recomendo uma disciplina severa.

Eu sou um mau exemplo, mas vou partilhar.
Como sabem, os meus Pais têm um restaurante que é só indulgência.
Quem melhor que os meus Pais para engordar?

Só que a minha Mãe, especialmente, fez uma coisa linda, da qual jamais me esquecerei: até aos 17 anos, comi junk food duas vezes.
Uma vez foi no McDonalds da Avenida da República, com a minha Mãe, a outra foi com o meu Tio Zé Tó no extinto Burger King das Amoreiras.
E lembro-me perfeitamente de ambas as vezes, jamais repetidas até começar a morar sozinha.

Quando éramos pequenos, comíamos pizzas e hambúrgueres, mas confeccionados em casa.
A minha Mãe comprava carne, picava, juntava alho e coentros e sal, e esculpia-a com as formas redondas dos hambúgueres, torrava pão, punha queijo, fazia tudo, mas sem merdas.
O mesmo se passava com as pizzas: fazia a massa, preparava os ingredientes, fazia o molho de tomate, e cozia no forno.
Nós ajudávamos e aprendíamos a fazer, mas de forma saudável.
Isto acontecia uma vez de seis em seis meses.
Com os doces, a mesma coisa.
A minha Mãe confeccionava os doces, e nós comíamos.
Como sou alérgica a ovos e chocolate, comia fruta, gelado, ou muito pouco do que tivesse sido feito.
Todas as refeições em minha casa sempre contaram com a mesa posta e toda a gente sentada ao mesmo tempo, e com a participação de todos e com elogios ou comentários (construtivos e destrutivos) ao que cada um fez.
Cada família com a sua idiossincrasia própria.
E na cozinha sempre houve coisas gordis e não gordis, mas acima de tudo, os ingredientes eram não-processados.
A minha Mãe trabalhava mais do que dez horas por dia, não tinha carro, tinha dois filhos, um cão (meu) e uma gata (do meu irmão), uma casa para organizar e gerir, e estava sempre formidável.

Tudo isto para dizer o quê?!

Que as opções alimentares de cada fêmea devem adaptar-se àquilo que se deseja.

Comer é um acto que deve ser consciente, e sobre o qual reflicto muito, desde há imenso tempo, fortemente influenciada pelo facto de ainda hoje me dedicar à indústria alimentar.
Porque as pessoas comem qualquer coisa, e é precisamente isso que não devem fazer.
Comer é o acto mais irreflectido do ser humano, quando deveria ser exactamente o oposto, ou seja, a consequência directa do que somos é aquilo que comemos.
Gosto de comer lixo, como toda a gente, mas prefiro grelhados e saladas e sopa e fruta e massa integral e pão e café com leite e torradas e azeite e tibornas... Sei lá... prefiro comida caseira, decente, com pouca gordura.
Por isso prefiro cozinhar, porque sei o que estou a fazer para depois comer.
A minha alimentação é linear e completa, pelo que será por isso que mantenho o mesmo peso/aparência?
Toda a gente sabe que sim.
Pelo que o truque não é truque nenhum.
(E poupa-se tanto dinheiro para aplicar noutras coisas... Gestão!)

O maior problema das dietas é que estas se apresentam como situação de excepção para o corpo e para a psique.
A situação de excepção é criada pela privação de determinados hábitos.
Essa privação cria invariavelmente uma descompensação qualquer, e daí que, quando termina o período de dieta, as pessoas possam estar mais magras...
Mas a recuperação dos quilos será feita assim que se sentarem à frente do que gostam de comer, durante quatro dias seguidos.

Manter uma alimentação cuidada, mais do que custar dinheiro, custa dedicação.
Custa ir ao supermercado e escolher os produtos, custa cozinhar, custa levar tupperwares e snacks saudáveis para todo o lado, custa jantar bem antes de ir sair à noite, em vez de jantar pouco, porque se janta pouco, etc etc etc...
E já que o raciocínio me trouxe o sair à noite, devo dizer-vos que as bebidas brancas são do mais calórico que há, que beber água é muito essencial, e que o melhor é beber vodka tónico, porque engorda pouco e não dá ressacas.
Vinho é óptimo, mas em alguns casos faz borbulhas e na maioria dos casos deixa os lábios menos bonitos, a cerveja é altamente diurética, pouco estética e faz barriga, e o resto, pois... não sei, porque não bebo.
Eu sou da vodka tónica e da água.

E estava a esquecer-me das bebidas...!
Bebo imenso café com leite, litros de água e de chá de gengibre (de preferência).
Gosto de sumos naturais, de batidos de fruta com leite de soja e de coca-cola.
Mas gosto da coca-cola normal, original.
Só que bebo refrigerantes uma vez por mês, porque nem me lembro deles...

E não sei...
Fui escrevendo sobre coisas e mais coisas, e sobre como é possível SER, com menos dinheiro.
Pensem nas fêmeas em todas as culturas.
Só as ocidentais é que precisam de marcas e de coisas que as classifiquem socialmente.
É um bocado seca.

Não sou nada rica, e o que mais gosto é disso mesmo.
De não o ser.
De umas vezes ter muito, de outras ter pouco ou nada.
É uma coisa muito latina da minha parte.
Muito cubana.
Sou tão mais feliz com a minha liberdade intelectual!
Porque, sim...
Tenho coisas óptimas e muito caras e muito exclusivas, mas... Não são essas coisas que me trazem felicidade.
Traz-me felicidade saber escrever português sem erros, poder comprar livros em quatro idiomas distintos e poder lê-los sem qualquer dificuldade, traz-me felicidade poder andar a pé sem ser assaltada, poder escrever o que me apetecer neste blogue, porque é meu e só o lê quem quer, pelo que me traz também felicidade viver em liberdade e promover a mesma.
Traz-me felicidade poder sonhar com qualquer coisa que nunca vou ter, porque prefiro ter o que tenho em vez de ter uma série de outras coisas que me impediriam de ser realmente feliz.

E este blogue traz-me muita felicidade.
Porque o escrevo com dedicação e com o meu ritmo, sem qualquer imposição editorial ou contratual seja com o que for.
Sem nada.
É o meu projecto mais desprovido de interesses futuros, embora esteja consciente de que isto é lido e que condiciona uma série de opiniões.

E, Crida, não tenho sapatos da Seaside ou do Calçado Guimarães, só porque nunca me ocorreu lá ir ver se têm alguma coisa.
Nem tenho roupa da Pimkie, porque também nunca me ocorreu lá entrar, mais pela música que por outra coisa.

Cridas,
Não sou nada snobe.

Vou para o Alentejo de autocarro e trago tupperwares com comida, que divido alegremente com os meus amigos que não têm vontade de cozinhar; deixo-os comer tudo e eu faço qualquer coisa para mim, porque já comi daquilo a vida toda, e para eles o que estou a fazer é a proporcionar-lhes um repasto do mais divino que há.
Aceito a roupa que me dão, lavo-a e arranjo-a ao meu gosto.
Aceito livros e todo o tipo de coisas que quiserem partilhar comigo, de boa fé.
Gosto de moda e adorava ter muitas, muitas coisas.
Mas também sei que sou (um)a Trashédia e que, para ir andar de autocarro da Carris, skate ou bicicleta, uma mala de dois mil euros ou um sapato de seiscentos, não é o mais apropriado, especialmente quando ao lado da minha porta, certamente, há gente com fome e dificuldades.

Agora...
Sobre aquilo que gosto de escrever?!...

Eh, pá... Gosto de escrever sobre o que me ensinaram: sobre requinte, classe, bom gosto...

Trato de viabilizar todos esses ensinamentos na minha curta experiência de vida como ser finalmente independente aos níveis económico, intelectual e social.
Não posso dizer que é fácil, mas é certamente divertido.

E sim, eu também odeio a Joana Barrios.