Além disso, irão aperceber-se que o estilo e a preocupação com a aparência são uma tradição familiar e que eu sou apenas o produto de gerações e gerações cujos padrões estéticos sempre estiveram acima da média.
Os meus bisavós maternos, os espanhóis, eram alfaiate e costureira, respectivamente, e criaram a minha Avó com todo o requinte, com toda a sapiência. A minha Avó fez o mesmo - ou pior - com a minha Mãe, e assim sucessivamente...
Chamo-me Joana.
Em 1990 foi um Carnaval difícil.
A minha queridíssima Mãe teve a feliz ideia de me mascarar de Joaninha.
Para tal dedicou-se a uma noite de trabalhos manuais e logrou um dos disfarces mais audaciosos de todo o sempre.
Era composto por um macacão inteiro de lã preto, botinhas pretas, passa-montanhas preto, com um buraco grande para se ver a cara e antenas a condizer, aplicadas na cabeça.
Por cima desse fato (e agora é que vem a verdadeira obra de arte) vestia-se uma carapaça de arame forrada com um bonito tecido vermelho que depois levou pintas pretas. Essa carapaça mandava um volume posterior digno de um Courrèges e funcionava como uma espécie de colete que se abotoava de lado (sim, a minha Mãe inventou um fecho cómodo e que não magoasse).
Estava ainda revestido de esponja, para não magoar.
Classe.
Em qualquer Carnaval tínhamos sempre mais do que um disfarce.
Era obrigatório.
Neste Carnaval só tive direito a ser Joaninha, tal era o impacto causado na massa que me observava.
E o Carnaval nesta altura ainda significava acordar e mascarar-me durante o maior número de dias possível.
Esta carapaça percorreu o país de lés a lés, já que a audácia nos levou a vários cortejos, com mais amigos dos pais e as respectivas crianças que envergavam os tradicionais fatos comprados.
Menos eu e o meu Irmão.
Com este disfarce vomitei na ilha de Faro e enjoei na Biblioteca Municipal de Beja, onde é hoje o Arquivo Distrital...
