F for FAKE

Há sempre uma Avó com a qual passamos mais tempo quando somos crianças.
Eu não fui excepção.

Tenho uma Avó, a quem sempre chamei Avó Madonna, que me ensinou muito pouca coisa útil e com a qual passei menos de uma semana, se contabilizar todas as horas em que estivémos juntas.
Ainda assim, esta Avó Madonna, detentora das melhores histórias de glamour desesperado, élan chunga e sorte trágica, ensinou-me, numa pequena expedição a sua casa, a separar o trigo do joio.
No seu apartamento da alta chique de Lisboa (ao qual muitos metros quadrados foram subtraídos por causa da necessidade de implantar roupeiros e armazenar tecido, tecido e mais tecido), deu-me uma lição para a vida:

Versada que é na distinção daquilo que é bom, abriu essas portas desses roupeiros e espalhou tudo à minha frente.
Carteiras, sapatos, vestidos, saias, camisolas, casacos, jóias, óculos...
E pela primeira vez vi o que é não ter espaço para poder contemplar cada uma das coisas que amamos com a devida distância. O tratamento dado a tais objectos, dada a proximidade e a espécie de display, fez com que, a partir daquele momento, achasse que tudo pode andar ao Deus dará.
Ela arrancava coisas de gavetas e dizia que uma senhora nunca deve usar cavas, que os lenços têm de ser de seda, que um bom par de óculos é essencial, que os sapatos são importantíssimos, que as carteiras, podem ser poucas, mas é imperativo que sejam demasiado boas, que não se pode, nunca, andar sem meias, que os casacos de peles são lindos e devem ser amados, que o cabedal é mesmo possível, que ela nunca usou um par de calças, que as jóias são um must... Mas que, para tudo isto fazer sentido, é preciso não só investir em bom gosto e classe, mas também em cremes, num bom champô e numas unhas bem tratadas. O perfume é decisivo.

É claro que estas coisas me foram todas ensinadas quando eu era ainda demasiado pequena para poder emitir qualquer tipo de juízo de valor ou exercer tamanhos ensinamentos na minha conduta.
Porém, ficaram.

Hoje em dia consigo perceber que estas coisas deste universo Madonna foram as únicas que ela poderia partilhar comigo, já que pouco mais podia ensinar-me.
Foi o seu approach.
E estou-lhe grata.

De entre todas as coisas que me ensinou sobre senhoras, a Avó Madonna disse-me que mais vale ter pouco, mas bom.
Retive.
E se há coisa que abomino com fervor, são coisas falsificadas, contrabandos, contrafacções e imitações.
Da mesma forma que as covers de músicas são geralmente más, as imitações de malas são más.
Há uma passagem no Gomorra, do Roberto Saviano (no livro, não no filme) que fala sobre isso.
Se me apetecesse doutrinar, agora discorreria sobre o assunto, mas fica para a próxima...!

Na passada sexta-feira fui fazer uma escritura.
Fui fazer uma escritura na Conservatória de uma verdadeira Senhora (ou era pelo menos assim que rezava a lenda) já muito Senhora.
Tudo certo.
Veio depois outra senhora, consultora de um banco, mas essa não era muito senhora.
Qualquer uma das duas aparentava um excelente ar e ostentavam coisas de quem não é pobre ou de quem, pelo menos, tem vontade de ser rico.
Uns cachuchos bem cintilantes, umas roupas ostensivas...
As socas da moda...
E UMA PRADA FALSA!
Mas das mesmo muito falsas.
E quando essa dita senhora começou a querer disparatar comigo, eu olhei-lhe bem para a mala enquanto ela falava e de repente, amansou.
Descobri-lhe a fraqueza e ela percebeu e ficou no ar uma espécie de nevoeiro secreto entre mim e ela.
Entretanto ela catou-me as etiquetas e ficámos quites.

Gostava ainda de vos presentear com umas falsificações que adoro:

OSSUS:




A MALA GOLO:



O meu conselho é evidente... Não comprar falso... Vai saltar à vista mais tarde ou mais cedo...!