Trashédias

Sou a primeira pessoa a rir de uma desgraça qualquer.
Sou demasiado cáustica.
E sou uma pessoa terrivelmente alerta para qualquer tipo de falha, pormenor ou detalhe.

Dizem que é desde pequena.
Facto que me leva a crer que só tem vindo a melhorar.

Quando era pequena comentava tudo em brasileiro e fazia todo o tipo de reparos desagradáveis à condição alheia.

They say bad kharma strikes back at you.
Must be true.


A adolescência é uma fase catastrófica da vida.

Já vos falei aqui da minha pele.
Pois bem, a minha pele é onde o tal reverso do kharma se manifesta em todos os aspectos.
Tive a minha dose de acne, o quístico, que apenas se manifestou na testa - parte da cara que se pode cobrir com uma franja - e que não deixou marcas ou lesões.
Aprendi a não espremer borbulhas, a não escarafunchar pedaços de bochecha só porque sim, etc...

Mas recentemente, e manifestado que está o meu fascínio pela deambulação de loja em loja, descobri os espelhos dos provadores.
Magnífica ideia para observar cada centímetro da minha maravilhosa pele e perceber de onde é que se pode tirar o quê.
O resultado?
Nefasto...

Normalmente sou uma compradora intuitiva.
Compro sem experimentar e depois logo se vê.
Só em casos muito raros ou extremos é que provo...
Acomodei-me às formas que já reconheço como favorecedoras, pelo que dispenso qualquer miragem das carnes no espelho de provador algum.

No entanto, e perante a possibilidade de comprar, finalmente, umas calças brancas bonitas, opacas e justas, não tive outro remédio senão entrar num desses famosos gabinetes de prova.
Tirei, numa dessas lojas muito selectas em que não há doze números da mesma peça à mostra (embora depois os haja no armazém...), o número exposto para provar de forma independente.
O rapaz veio a correr e disse-me que me ajudava (?), pegou nas calças e levou-as para o provador.
O número exposto estava-me bastante grande, pelo que lhe pedi o número abaixo.
Ele acedeu ao pedido e disse que ia verificar.
Sozinha, em cuecas, no provador, olhei para o espelho e vi vários pêlos supérfulos na cara, a decorar o topo do lábio superior. Vi também uma desgraçada borbulha a querer formar-se, no entanto ainda invisível, e um ponto negro.
Comecei a apertar, a examinar e a fazer essas coisas que as que pertencem ao universo femina conseguem compreender mas que nunca verbalizam.
O tempo que o rapaz demorou deu ainda para ver que não era nada necessário olhar para o espelho no que da cintura para baixo se referia e regressei à cara, desta feita com novo ímpeto e overdose de garra.
De uma forma muito envergonhada, deu-me as calças pela abertura da cortina, eu vesti e ficou tudo bem.
Decidi sair para ver tudo com uma distância de quatro metros entre o espelho e a minha pessoa.
Olhei, voltei a olhar, observei.
Certifiquei-me que não parecia um paio enguitado e voltei para o provador, feliz por ter descoberto umas calças brancas decentes!
No provador, voltei a olhar para mim dentro das calças.
E quando olhei de volta, vi a minha cara: era como se tivesse sido mordida por um batalhão de mosquitos.
Tudo eram altos e marcas de quem esteve a pressionar um poro que pura e simplesmente decidiu tirar férias.
Paguei as calças e fugi daquele estabelecimento comercial o mais depressa possível.

Hoje aconteceu uma coisa parecida.
Perante um enorme espelho, bem iluminado, a meio do ensaio, vi uma coisa que me pareceu um intruso dérmico e decidi atacar...
Só que estava muita gente a ver...

Deixo-vos com duas imagens que podem, de alguma forma, ilustrar a mensagem solidária de hoje.
Uma delas roubei no blogue de um amigo meu e a outra é um frame de um programa de televisão espanhol.