Correspondência, Pt.2

Não sei se alguém já se apercebeu, mas eu faço a moderação dos comentários deste blogue.
No entanto não faço aquela proeza de não publicar os que não me agradam.
Publico todos.

Pessoalmente, e a um nível muito íntimo, confesso aqui que é raríssimo ir ver ou ler entradas antigas de blogues.
A não ser que sejam mesmo magníficos, poupo-me a esses fados...

Louvo o leitor que se deu ao trabalho de passar este blogue a pente fino.
Louvo mesmo.
Também não sou pessoa de efectuar juízos de valor sobre entradas (embora às vezes me pule o pé para a festa), muito menos de enviar comentários que são sujeitos a moderação em que tento desenvolver uma ideia de forma tosca dados os limites de caracteres a que tudo neste mundo cibernético está sujeito.
Se essa ideia essa que tem como intuito primordial demover-me da minha digníssima e afirmada posição em relação a esse calçado que vem sendo o chinelo, então, não entendo mesmo.
Saliento que a pessoa que efectuou este comentário é de nacionalidade brasileira.

Para o meu Caro Leitor Tropical, umas palavras:

Parto do princípio que nunca terá visitado Portugal.

Em Portugal também costuma estar muito calor em épocas específicas do ano, nomeadamente aquela em que estamos agora, o Verão. Não imagina sequer o calor que chega a estar lá para os lados de onde vim (Alentejo, do Baixo)...
Às vezes, mais de quarenta graus à sombra e sem praia nem calçadão.

A minha intolerância em relação ao chinelo prende-se com vários motivos, os quais já foram explicitados em entradas anteriores deste abençoado blogue, e que não voltarei a repetir, sob pena de me tornar maçadora.

Gostava apenas de lhe pedir que visitasse a cidade de Lisboa e os seus arredores, por alturas do Verão, em que o calor impede o trajar mais composto, e que prestasse atenção ao que toca o chão.
Pedia-lhe que fizesse esse exercício diariamente, durante umas três horinhas, ao longo de uma semana.
Só isso.

Por questões culturais que não me apetece estar a enumerar agora, as mulheres brasileiras fazem ginástica, arranjam as sobrancelhas, os buços, depilam as virilhas tão drasticamente que a essa depilação até se chama depilação brasileira, arranjam as unhas, fazem manicures e pedicures, cortam peles, cortam unhas e exportam como ninguém uma marca de vernizes que dá pelo nome de Risqué. Também fazem outras coisas, tais como sambar e cantar e dançar e trazer a alegria no corpo. Fazem branqueamentos de dentes, alisados japoneses e tantos outros tratamentos do foro da estética que me ultrapassam largamente.

Posso garantir-lhe, caro leitor, que desde que Portugal abriu as portas aos nossos irmãos com sotaque (e isto não é irónico, eu adoro sotaques, eu própria possuo um sotaque forte), o mercado da estética foi invadido por uma série de utensílios e aparelhómetros cujas funções se destinam às manicures geniais que as esteticistas brasileiras fazem. Não sabia, por exemplo, da existência de uma espécie de lápis removedor de excessos de vernizes dos cantinhos das unhas até as raparigas me ensinarem o que era.
Posso garantir-lhe ainda que todas as cabeleireiras da minha terra perderam a sua clientela de manicure para as três ou quatro raparigas de nacionalidade brasileira que fazem unhas como ninguém.
Também lhe posso garantir que desde que descobri a minha esteticista, não vou a mais nenhuma, e que sempre que ela me pinta as unhas dos pés e se queixa por eu ter a veleidade de calçar sapatos fechados ou menos abertos com uns pés que podem andar ao ar, eu não lhe consigo dar uma resposta clara ou sã... Não consigo.

Não está no sangue da mulher portuguesa comum tanta diligência estética.
Não está.
Não está de tal maneira, que há canções, por exemplo em Espanha, sobre a mulher portuguesa e o seu bigode, em França e na Alemanha há mitos intermináveis sobre as portuguesas e o seu desleixo... E nada disto foi construído em vão. Cada um constrói a sua reputação, e a mulher portuguesa encarregou-se de o fazer.
Agora toca às gerações vindouras inverter a tendência.

Ainda no seguimento de tudo isto, desta resposta que o Caro Leitor merece, confesso que o pé da mulher portuguesa não pode uma Havaiana, uma Grendha ou qualquer tipo de chinelo.
Não merece.
É ver unhas enoooooooooormes e intermináveis, em que se adivinha, por baixo do verniz já estalado, uma sujidade menos boa, é ver calcanhares a precisar de rebarbadora, é ver a ausência total de cuidados naqueles que são os mais preciosos bens do corpo humano, as bases de sustentação, os alicerces da mobilidade.

Não nego o conforto proporcionado pela roupa confortável e desportiva, não nego nada daquilo que o Caro Leitor decidiu partilhar.
Refuto apenas e justifico a minha aversão.

Espero que isto o esclareça.
Caso não seja ainda suficiente, por favor, não hesite em estabelecer novo contacto.