Os Pobrezinhos

Não aguento o FRIO.

Algures no Mundo, a esta altura do campeonato, estão menos vinte ou trinta graus, e até menos.
Segundo o Sartorialist e outros fotógrafos que tais, há pessoas estilosíssimas e a calçar sandálias sem meias, a vestir sedas e a começar a usar os looks das passereles para o Verão de 2011.
Em Dezembro já vomito os comentários a certas cores como sendo os ícones das cromáticos da colecção X ou Y.
BORING.

Ponto um: duvido que essa gente que fotografa pessoas que andam na rua (?) viaje nestas alturas tremendamente frias do ano. Essa gente, tal como eu, faz uma revoada de coisas e depois vai fazendo os updates. Porque... em Milão, por melhor tempo que faça, não é Verão nem está sol, nem sequer há gente a passear sem casaco de Inverno.
É tudo forjado.

Ponto dois: soube de fonte segura que, com menos vinte ou trinta graus, é impossível ter estilo.

Senti-me iluminada.
Porque não há-de ser só a minha cara que congela nem só a minha ponta do nariz que adquire o tom avermelhado ridículo que o frio provoca.

A ficção tem limites.
E é muito triste perceber que o comum dos mortais não tem a noção de que a ficção fornecida pelos blogues apenas provoca pneumonias, bronquites, constipações, gripes...
E quando me presto a escutar comentários relativos ao meu excesso de camadas quentes no corpo, a única coisa que me apetece fazer é rir do frio alheio...
Sim, é super cool e fixe estar de camisa e meias pelo joelho como a Taylor Momsen, mas... sejamos sinceros... as pernas roxas e as frieiras não são lá muito sexy, ou são?!
E os ténis baratos da H&M sem peúgas, combinados apenas com uma Gabardine e uma breve T-shirt de scoop neck? Provocam um combinado lindíssimo, mas só dá para a Primavera, people...
É preciso entender que os blogues e os editoriais são ficções.
Não representam a realidade.
São quimeras agradáveis.
E são apenas isso.

Nunca fui de passar frio.
Antes Yeti que com frio.
E lembro-me de sair da Quinta e de nunca ter ouvido - ao contrário do meu Irmão - a mítica frase: LEVA UM AGASALHO.
Lembro-me de ir à casa de uma amiga ou outra e de, quando saíamos para a rua, ouvir as Mães dizerem LEVA UM AGASALHO, ao que elas respondiam NÃO TENHO FRIO e ao que as Mães respomdiam ÉS TÃO TEIMOSA! JÁ VISTE? A JOANA É QUE NÃO TEM FRIO!
E tudo isto era certo.
Acho que tentei uma ou duas vezes sair de casa assim mais arejada.
Arrependi-me logo.
Não suporto o frio e gente com cara de frio.

E ver gente com cara de frio é ver gente com cara de pobre e isso é tremendo, porque... Cara de frio e cara de pobre são duas coisas tão distantes, mas que se encontram nessa brecha, nessa corrente de ar...

De repente é como se o frio fosse uma coisa absolutamente virtual, e é só ver gente vestida de Verão com disfraçadores ridículos tais como meias de vidro, gorrinhos e luvinhas, entre outros...

O FRIO EXISTE.
É real.
É medido em graus Celsius ou Farenheit.
É uma sensação térmica que foi vivida, durante séculos, com muita dificuldade.
Finalmente, no século vinte, e especialmente após a invenção do plástico, começou a desenvolver-se a indústria têxtil de tal forma que até se atribuiu um nome à criação dos tecidos, a qual passou a chamar-se engenharia têxtil, e foi graças a esse ramo da engenharia que se inventou o poliéster e posteriormente as camisolas Thermotebe.
Viveram-se décadas de conforto e de calorzinho no corpo.
Porquê passar frio, entrados já que estamos no novo milénio?!

É que, e desculpem se ofendo, é muito muito feio andar por aí a bater os queixos.
Especialmente quando há hipótese de estar quentinho, de usar flanelas, lãs, cachemiras, botas quentes, algodões bem gramados...!

Sou definitivamente contra o género Pobrezinho, contra o género Robin Hood, contra as Meninas Castanhas cobertas de collant de vidro e com tanto frio como se fossem sem abrigos ou pessoas de baixa condição... daquelas pessoas que as Meninas Castanhas tanto abominam...

Ter frio dá algum mau ar.
Ter frio é muito feio.
Ter frio é inestético.

Mas... ter frio traz as minhas peles todas à rua!