YO SOLO TOMO AGUA.

Não querendo roubar o tempo de antena a nenhuma das pessoas deste mundo que mantêm blogues dedicados às artes da comida, lamento, mas também tenho uma opinião (se não tivesse é que era de estranhar)...!

Tal como sabem, sou do campo.
E tal como também sabem, no campo tenho uma coisa que se chama Monte Alentejano.
O Monte Alentejano é um sítio magnífico, onde passei os meus Verões desde 1998.
E foi por lá que aprendi imenso sobre culinária.
A minha Mãe e a minha Avó são excelentes cozinheiras.
O meu Pai é óptimo nos três pratos que confecciona (digamos que se especializou...!).
E eu sei de bolos, doces e receitas complicadíssimas.
Assim de paixão, amo a cozinha molecular, porque acho e sei que o Futuro vive na ciência.
O Futuro em todos os campos e áreas.
Especialmente o Futuro da criação.

Não me lembro de ser proibida de cozinhar ou entrar na cozinha.
Nunca.
Lembro-me, muito pelo contrário, de ajudar e de delirar com a cozinha.
Sem o carácter obsessivo revelado no amor aos trapos.

Aos 12 anos, aquando da entrada do Monte Alentejano nas nossas vidas, comecei a passar muito tempo na cozinha industrial desse imóvel.
Amo-a.
É quadrada e linda e tem utensílios que nunca mais acabam e um rádio que já expeliu tanto heavy metal, que nem sei...!
Entre os 12 e os 23, não houve um único Verão em que estivesse afastada do número oito da Avenida Gago Coutinho, em Montemor-O-Novo.
Nem um.
Podia estar longe, mas vinha sempre.
Confesso que, até ao segundo Verão do Conservatório, odiava de morte trabalhar no Verão, ou ajudar os meus Pais, ou estar a aprender, ou fosse o que fosse.
Os meus colegas da escola iam todos fazer coisas típicas de colegas da escola cujos Pais não têm restaurantes e não acham que trabalhar faz bem, e eu lá ficava, fardada, a esperar doze horas pelo correcto arrefecimento do preparado da Sericaia ou a afastar águas e açúcares para fazer ponto de pérola ou a desmanchar borregos com o Sr. Malagueira.
Enquanto que ia tudo para a piscina de não sei quem, eu não ia.
Ficava com os Misfits a descascar uma saca de 50kg de batatas ou a picar alhos e a preparar quantidades industriais de coisas que iriam fazer falta.
Em caso de dúvida, sei manter pessoas vivas e alimentadas.
Sei.
E sei fazer coisas do foro do genial, tais como cortar o bife pelo fio da carne, para não ficar todo encarquilhado, ou enrolar migas, fazer Frutos Secos de Cação ou mandar-me de cabeça para uma receita nova e acertar mesmo em cheio.
Sei.
E ao longe, sei que servir 300 refeições é duro, mas que me sai do pêlo e que não tenho uma única reclamação.
Só não sei se foi para isso que nasci, mas pronto.
O pior mesmo é não poder ter as unhas pintadas e roupa gira.
Uso um lenço na cabeça arranjado num misto de Carmen Miranda e Simone de Beauvoir e Vans.
É o meu toque.

E esta introdução é para quê?!
Para saberem, pessoas da culinária, que não desejo roubar-vos nenhuma espécie de posto.
De forma nenhuma.

Mas como ando a ver imensos blogues e a reparar em imensas coisas, hoje lembrei-me de partilhar isto.

Cozinho de forma muito simples.
Viver sozinho tem um único inconveniente: cozinhar é sempre para ninguém.
E quando vem alguém cá a casa (que é o caso), nunca sei o que deva fazer.
Porque... Adoro comer, mas sou fã de comida que não enche, de comida saudável e que funciona mais por reacção química do que por outra coisa, pelo que a ementa é muito simples.

Um creme de courgettes para começar, uns peitos de frango assados no forno com uma salada e umas frutas óptimas.
Tenho a vantagem de morar entre três das melhores frutarias que conheço, onde posso mesmo encontrar coisas saborosas e criminosamente boas.
Quanto ao barato, não sei, porque nunca poupei em comida.

Portanto, ensino-vos a fazer o creme e os peitos de frango e revelo o que terá a minha salada.

CREME DE COURGETTES

INGREDIENTES
4 Courgettes (grandes)
2 Cebolas (grandes)
2 Dentes de Alho
1 Colher de Sopa de Sal Grosso
Azeite
Água

PREPARAÇÃO
Arranjam-se as courgettes, as cebolas e os alhos e cortam-se de forma grosseira. Lavam-se. Escorrem-se.
Cobre-se o fundo da panela com azeite e leva-se ao lume.
Quando o azeite estiver quente (fica mais líquido), retira-se a panela do lume e deitam-se as courgettes, os alhos e o sal.
Dá-se uma volta a tudo com uma colher de pau, deixa-se arrefecer, e volta tudo ao lume, brando, dois minutos.
Cobrem-se os legumes de água, e deixa-se ferver imenso até que se evapore alguma da água.
Quando tudo estiver cozinhado, retira-se do lume, e passa-se com uma varinha mágica.

(É TOP!)

FRANGO ASSADO NO FORNO
2 Peitos de Frango
1 Cabeça de Alhos
1 Colher de Sopa de Sal Grosso
1/2 Limão ou Lima
Alecrim
Azeite (qb)
Manteiga (é mais saboroso e calórico)
Vinho Branco (qb)


PREPARAÇÃO
Limpam-se os peitos de frango de gorduras e coisas feias que tenham. Reservam-se.
Picam-se os alhos muito miudinhos até parecerem uma papa (não me ofende nada quem usa massa de alho daquelas de frasco) e misturam-se com o sal, o alecrim e o vinho branco e o limão ou a lima, para que criem mesmo uma papa. Reserva-se.
No fundo de um tabuleiro de ir ao forno, vulgo pyrex, deita-se um fio de azeite.
Dispõem-se os peitos de frango no pyrex e depois untam-se com a dita papa.
Deve usar-se a papa toda, se sobrar, deita-se o resto no fundo do recipiente.
Para quem decidir usar a manteiga, devem pôr-se uns seis nózinhos de manteiga à volta ou em cima do frango.
Vai ao forno médio durante cerca de 20 minutos.
Deve vigiar-se o cozinhado e não deixar queimar.

(O ideal é ter tempo de temperar, deixar a marinar umas três a quatro horas, e cozinhar, mas se tal não acontecer, não é o fim do mundo, pois além do alho ser um excelente catalisador de sabor, o tempero com o alecrim dá imenso resultado e disfraça o facto de isto ser uma receita do domínio da cozinha rápida (mas saudável).
Acho que o forno é um excelente amigo da Mulher em vários aspectos, pelo que o uso imenso.
E este tempero vagamente cítrico é adorável porque, para as pessoas que, como eu, não podem consumir cítricos devido a estômagos mais débeis, não é demasiado proeminente, mas está lá.)

A salada terá rúcola selvagem (da mesmo selvagem e verdadeira) e maçã fuji (ambos dos paneleiros da fruta) e será simplesmente temperada com vinagre balsâmico (do Clube do Gourmet do El Corte Inglès, que é O melhor...), azeite e sal grosso.