COOLUMBINE PARTE 1

É assim: Já não aguento mais gente que insiste naquela merda das fotografias de rua.
Não aguento.
Uma coisa é lá o Sartorialist, mais o Face Hunter e essa gente que faz profissão e vida disso, outra coisa são os aportuguesamentos da coisa.
Se todos fomos dotados de, pelo menos, um cérebro, porque raio é que não o usam para criar?
Além de que isso é tão 2003...

Ontem foi assim uma espécie de gota de água, porque sinceramente não tenho paciência.
O José (Alfaiate Lisboeta) já me pediu para me fotografar, mas pedi-lhe que não o fizesse, expliquei-lhe as minhas razões e ele não o fez.
Amigos como d'antes, siga.
Só que o que acontece agora entre o Camões e o Chiado é de bradar aos céus.
Solta-se uma pedra da calçada secular e lá aparecem uns dez fotógrafos de moda.
Seja pedra branca ou preta, as quantidades são muito avultadas.

Ontem repetiu-se.
Só que como eu já tenho a paciência em Myanmar, não aguentei.

Enquanto falava com uns amigos no Camões ao fim da tarde, um jovem começou a fotografar-me.
Estava eu de costas.
Fui até ao Quiosque, e ele continuou a fotografar-me.
Até que ele também foi ao Quiosque pedi-lhe que apagasse as fotos.
Diálogo consequente:
- Mas não és amiga da Silvana?
- Silvana? (a única que conheço que tira fotografias não se chama Silvana, mas tudo bem...)
- Da Sílvia, Sílvia...
- Sim, sou, mas a Sílvia fotografa-me porque é minha amiga e eu deixo. Tu não és meu amigo, não pediste para me fotografar, por isso apaga as fotos, que eu não quero estar num flickr qualquer.
E virei costas.

Não tenho paciência.
E depois começo a ficar cheia de ódio e só me apetece encher estas hordas de fotógrafos de porrada.
Primeiro, não são fotógrafos; segundo, os blogues são uma merda porque eles estão mais interessados em decalcar um modelo estrangeiro qualquer do que fazer qualquer coisa que seja realmente a cena deles, além de que estão completamente metidos nessa rotina de que a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha, pelo que perdem demasiado tempo e demasiada criatividade com a envolvente, facto que empobrece os seus conteúdos e os leva mesmo à miséria; terceiro, não pedem autorização, não têm atitude, não têm onda nem estética e não se defendem; quarto, não percebem nada e os seus leitores também não; e quinto, são extremamente mal educados.

Nem eu sou um monumento da cidade para se me fotografar assim, nem quero que saibam o que visto.
Porque nem sequer tenho assim muito estilo.
Tenho o meu e visto-me como eu sou desde que tenho quatro anos, idade com que comecei a vestir-me sozinha.
Não faço auto-retratos com os meus combinados diários, porque isso me deprime.
Além de que a maioria dos combinados e dos quitanços que se podem ver em todos os blogues de trendsetters são tão fabricados para aquele momento que dói.
Ninguém consegue andar na rua assim.
É vagamente impraticável.
Quando banalizarmos o uso de uns sapatos delicados de mais de seiscentos euros, conseguirei perceber muita coisa, até lá, e com FMI, lamento, mas é tudo fake.
Não estou muito interessada nas tendências, nas promoções da Primark, no que é que não sei quem usou...
Não sei o que é a moda.
E sou feliz assim.
Também não sei quem é que são as it girls do momento ou o raio que me parta.
Caguei.
Não sei e pronto.
Sei o que me entedia e o que me deixa os nervos em franja (as quais, a propósito, estão out).
E a falta de respeito pelos outros é capaz de me enfurecer até ao ponto de escrever isto.

Enquanto vivi em Barcelona, ajudei imensos alunos dos mil e um cursos de moda que proliferam pela cidade.
Deixei-me fotografar, fiz de modelo, emprestei roupa...
Sempre me pediram, mandaram mails, falaram comigo, ou eram meus amigos.
Em Portugal só houve uma pessoa que me fotografou, e foi tão delicada comigo que não fui capaz de dizer que não.
Além de que esse era o trabalho da rapariga em questão e eu estava na ModaLisboa.
Um contexto convergente, portanto.

É que esta merda da internet e dos blogues e dos flickrs não separa o trigo do joio, e é necessário.
Porque há de certeza muita gente que vê este blogue, porque ele é público, mas apenas uma ínfima parte o compreende realmente e é minha amiga.
O resto, lamento, mas não são.
E fico muito grata/assustada quando me apercebo de que há mais mundo para além do meu.
No meu mundo não entram pessoas mal intencionadas, muito menos fotografias roubadas.
Não entra disso.
Lá porque existe um perfil no Facebook e um blogue, não quer dizer que esteja disponível para deixar que me devassem assim só porque sim.

Na internet, está provado que se fortificou a noção de comunidade, no sentido em que as comunidades começaram a ser cada vez mais restritas e autóctones, porque, por estarem em contacto, se tornaram menos vulneráveis.
Pessoalmente, caguei nisso.

Pode haver quem não se incomode com isto, mas eu incomodo.
E custa-me horrores que não me respeitem e que não entendam que existem mais pessoas no mundo para além dos interesses dos que motivaram esta entrada.
É de uma tremenda falta de educação.
Por acaso a mim nunca me tinha acontecido nenhuma destas.
Mas ao meu Manamorado já.
Ele sabe que quando vira as costas depois de dizer que não quer ser fotografado, o fotografam na mesma.

Paparazzis da vida real?
Querem novos Senhores do Adeus e personagens para povoar esta Lisboa deserta, é?
Poesia imagética da contemporaneidade?
Construam-na vocês se quiserem.

No dia da Liberdade?!
Mas nunca ninguém vos disse que a minha liberdade termina onde começa a dos outros?

Men, não temos nada de interessante para fotografar.
Eu, pelo menos, não tenho.
E também dispenso sujeitar-me aos comentários labregos de quem vê as fotografias e tem uns padrões estéticos que vou ali já venho...

E sabem porquê?
Eu explico, apesar de ser muito contra dar explicações:

Quando o blogue de moda com mais seguidores em Portugal é o Blogue da Mini Saia, não posso querer que me compreendam.
Também não posso querer que me compreenda quem deixa que o seu blogue seja um estandarte de publicidade a produtos que não interessam a ninguém. (A sério, o anti-shoe?! Quase que consigo aceitar publicidade da Oriflame, agora o anti-shoe?!)
Também não espero que me entenda quem se veste e em frente ao espelho da casa de banho tira fotos.
Nem quem não sabe escrever português.
Nem quem não tem educação.